A Viação Real Ita enfrenta dívidas de mais de R$ 51 milhões e busca proteção judicial para não perder seus ônibus para credores.
Uma das mais tradicionais empresas de transporte do Sul do Espírito Santo, a Viação Real Ita S.A., fundada há mais de seis décadas, atrasavessa uma das piores crises da sua história. Documentos públicos, obtidos com exclusividade pelo portal Ônibus & Transporte através do site do Tribunal de Justiça do Espírito Santo revelam que, no dia 26 de junho, a empresa ingressou com uma ação de tutela cautelar antecente, com o objetivo de evitar a apreensão de ônibus e garantir a continuidade de suas operações.
A medida judicial é um prelúdio para o pedido de recuperação judicial, que deverá ser protocolado nos próximos dias.

Na decisão do processo nº 5007426-72.2025.8.08.0011, expedida no mesmo dia em que foi protocolado a ação, o juiz Bernardo Fajardo Lima, da 3º Vara Cível de Cachoeiro de Itapemirim (ES), reconheceu a gravidade da situação econômica da empresa e deferiu parcialmente a tutela, suspendendo provisoriamente ações judiciais e extrajudiciais que pudessem resultar na retirada de veículos da frota, bens que são considerados essenciais para a continuidade do serviço público de transporte intermunicipal e interestadual.
Leia a decisão completa a seguir:
Na petição, a Viação Real aponta uma dívida acumudada superior a R$ 51.843.139,87 (cinquenta e um milhões, oitocentos e quarenta e três mil, cento e trinta e nove reais e oitenta e sete centavos) e a iminência de bloqueios promovidos por credores como o Banco CNH, que financia principalmente ônibus e caminhões que utilizam conjuntos mecânicos da marca Iveco, Banco Mercedes-Benz e Banco Volkswagem.
Já no último dia 11, uma nova decisão estendeu a proteção cautelar a outros credores, sendo estes o Banco Moneo, que financia produtos da encarroçadora Marcopolo e Volare, Itaú Unibanco e Scania Banco. Impedindo assim a apreenção de mais veículos até a apresentação do pedido formal de recuperação judicial, o que deve ocorrer em até 30 dias corridos.
Leia a decisão completa a seguir:
A crise da Viação Real tem sido acompanhada com preocupação por representantes públicos, que durante a Sessão Ordinária da Câmara Municipal de Cachoeiro, realizada ontem (15), o vereador Alexandre de Itaoca (PSB) fez um duro alerta ao usar a tribuna.
“Eu vi também uma matéria que a Real, ela tá praticamente abrindo falência porque algumas linhas da Real não têm um usuário sequer, não tem um passageiro.”
A declaração, ainda que informal, reflete a perda de competitividade da empresa em altumas rotas e os efeitos diretos da redução da demanda de passageiros, alta nos custos operacionais e da audência de medidas compensatórias por parte dos poder concedente dos serviços.
Assista à íntegra da fala do vereador:
Recente expansão
A solicitação de proteção judicial ocorre em um momento que causa estranheza à comunidade, aos funcionários e usuários regulares da empresa, tendo em vista que a Viação Real vinha promovendo uma expansão significativa das suas operações nos últimos meses.
Em fevereiro de 2024, a empresa adquiriu a Viação Transpark, que era responsável pelo transporte coletivo de passageiros na cidade de Vargem Alta (ES), conforme anunciamos aqui no Ônibus & Transporte. Já no mês de janeiro de 2025, há 6 meses, a empresa assumiu integralmente as operações da Costa Sul Transporte e Turismo, que opera rotas importantes para o distritos de Soturno e Córrego dos Monos, em Cachoeiro (ES), além de rotas intermunicipais partindo de Cacheoiro de Itapemirim (ES) para os municípios de Atílio Vivácqua (ES) e Presidente Kennedy (ES).
Além disso, era notório que a empresa vinha realizando investimentos pesados na renovação e expansão da sua frota, adquirindo novos ônibus e micro-ônibus, veículos mais mordernos e que proporcionam maior conforto para seus clientes, o que reforça o contrassenso entre o discurso de insolvência e as recentes ações de ampliação e capitalização.
Reflexos sociais e econômicos
Atualmente a Viação Real emprega centenas de trabalhadores diretos e indiretos, e atua em diversas regiões do Estado com serviços de transporte regular e fretamento. A eventual falência da empresa teria impactos significativos sobre a mobilidade regional, empregos e economia local.
Por ora, as decisões judiciais asseguram uma sobrevida à operação. No entanto, como alertou o próprio magistrado na sentença, sem a apresentação tempestiva do pedido de recuperação judicial, as proteções cautelares perderão automaticamente sua validade, colocando em risco imediato a continuidade da empresa.
A equipe do Ônibus & Transporte entrou em contato com a empresa pelos telefones de contato informados em seu site, mas até o momento do fechamento desta matéria, não obteve retorno. Mas o espaço segue aberto.
(DA REDAÇÃO \\ Beatriz Fontoura)
(INF.\FONTE: Luís G. Correa \\ Ônibus e Transporte)
(FT.\CRÉD.: Marcopolo \\ Divulgação)